Coletivo Literario Confraria dos Loucos ...

A Confraria dos Loucos é um Coletivo Literário que tem a música, a poesia e o protesto como busca emacipatória do silêncio e da alienação, impostos pelo "sistema" ... As opiniões expressas pelos autores são de responsabilidade dos mesmos, o Coletivo é um canal democrático e incitador de discussões e reflexões...

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O Monstro do Pantano

esta noite gelada de terror
dilacera a alma
estranhamente guardo a imagem do sonho
na memória da lua
grande desastre na floresta negra
desertos artificiais logo alí adiante
é só perceber o clarão e os gritos
perdido nessa rota obscura de desejos
a lua se apaga quando o céu escurece
na noite da veloz galopada do medo
cresce enraivecido o cão que nos espreita na colina
este túnel emudecido
fera monstruosa que se mutila
antes madrugada onde tudo dormia
rastro colorido dos segredos esquecidos
um pedaço de algodão envelhecido
dadaísmo dadaesmo dadatédio enlouquecido
frio medonho
a cidade é um poço
entupido


André Leite Ferreira (Belém-PA)

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Soneto torto

Consciência
com ciência.
Ciente de
saber.

Negra condição,
da pele
resistente
herdar.

Saber da herança negra,
das lutas negras
do ensinamento.

Venerar a herança negra,
nos dias há dia
sem confinamento.

Mariana

sábado, 6 de novembro de 2010

MINHAS CLARIDADES VEM DO ESCURO
E MINHA LUZ SEMPRE SURGE DO NADA.
NADA, PERDIDA NA RUA E NA MADRUGADA
O NADA NÃO SIGNIFICA VAZIO
O NADA É CHEIO E TEM MOVIMENTO COMO UM RIO,
NADA REPLETO E CHEIO DE NADA.
A BUSCA DE SENTIDO VIRA UM POR SI SÓ,
GRITANDO E BUSCANDO A SAÍDA
MAS, AFUNDANDO
NUM
NÓ.

Carmela Mazzoti

domingo, 24 de outubro de 2010

Por trás dos muros: moinhos

acompanha descaradamente o silêncio do medo
silenciosamente calma e desperta
quase como uma pantera que se perde na escuridão
se acha a cada instante dentro do peito
sem saber se é dia ou noite
sem saber se é perto ou longe
perto e longe é sempre aqui
ruínas e delírios mornos
a lua não grita
o céu estranhamente não desaba
vaga feito sombra
nas floresta escuras do desejo
é sempre tenue
e nos aguarda dia e noite
conhece a nossa história desde sempre
e nunca se precipita ou age em vão
a escolha é sempre sua

André Leite Ferreira (Belém-PA)

domingo, 26 de setembro de 2010

Suave como metralhadoras
agressiva como criança.
Não me pergunte da minha andança
sou cheia de respostas.
Natural como o cimento,
o pé no chão e a enxada.
Se isto não te leva a nada,
não é este o meu contentamento.
Quebrei o ciclo, agora é tarde
o pouco tempo fez suas escolhas
assim como meu pé é cheio de bolhas,
minha cabeça, de pensamentos, arde.
Se ao me olhar algo te passa
esqueça ou me ignore,
o de fora é casca que cobre
todas temos o inferno e o céu em brasa.


Maria Balbina

domingo, 19 de setembro de 2010

O Menino

Primeiro é uma explosão seca e melancólica. Vindo sabe-se lá da onde. Do céu. Do vento. Do lado de lá.

De Alá não.

Alá é misericordioso. 

Segundos antes de encrespar a terra e fecundar o fim, dá pra ouvir o barulho das rodas das carruagens de fogo. Rangerem. É o som do paraíso?

O filho, abaixado, escondido sob o lenço do pai. Olha lá o avião. Que colorido. Ele se imagina um pássaro e nem sente dor quando seu corpo miúdo desaba junto com o mundo e treme um pedaço de chão seco. Lá tudo é seco. Até os olhos das mães.

Ele é um menino. Não tem nome. Não te interessa. Não me interessa. Não interessa os anunciantes. Ele é o número 698 dos quase 900, e tem toda a pompa internacional. Você não o conhece. Eu não o conheço. Os anunciantes não o conhecem. Mas ele dá uma bela matéria do seu jornal. Suas mãos pequeninas pintadas de vermelho árido dão uma bela fotografia e é provável que você ganhe algum prêmio na Europa com ela, e estampe livros caros em salas de mobílias encouradas e caras; e daqui a 15 anos, quando o menino completaria 20 anos de ódio, você vai celebrar o aniversário da sua grande fotografia com muito champanhe e uísque para seus convidados que adoram champanhe e uísque.

Mas hoje ele ainda é menino e apenas jaz. Sem remorso, sem pompa, sem prêmio, sem sonho de ser mais pássaro. Ele jaz, apenas, e é contornado pelos limites dos olhos distantes e coléricos do pai, que revela as fotografias que você nunca verá nos jornais.

Semente (Gustavo)

LIBERDADE DO ADEUS

Sou um perdido em meio aos muitos destinos
sem caminho certo a seguir
sem estábulos para morar
sem corrente para estabelecer um limite

Sim estou rodeado de correntes que não me permitem retornar ao adeus
dizer “lá se foi o louco" para mim, digam
Proclamem
o ‘tam tam’ abandonou tudo pelo nada

Gritem, exclamem, retornem aos seus lugares
porque aqui vou eu
para aquele lugar, onde não se para
só posso prosseguir
retomo o medo
realço o valor que é ser supervalorizado
a liberdade, não de lugar
mas a liberdade dentro de si

Daquele que foi embora, para o mundo a fora
sem destino, proclamando a solidão solidária
deixando a comida e roupa lavada para trás
sem destino

Proclamem tediosos, digam invejosos
relatem meus reportes particulares da mesquinharia alheia
todos em um grande coral
Lá foi ele
Será que voltara?

Zenildo Alves de Souza Jr. (Zen) - Brasília/DF