Coletivo Literario Confraria dos Loucos ...

A Confraria dos Loucos é um Coletivo Literário que tem a música, a poesia e o protesto como busca emacipatória do silêncio e da alienação, impostos pelo "sistema" ... As opiniões expressas pelos autores são de responsabilidade dos mesmos, o Coletivo é um canal democrático e incitador de discussões e reflexões...

sábado, 10 de abril de 2010

Na Contra-Mão da MPB

Existe um crivo, uma imposição, quando se fala de música e cultura em nossa sociedade. Esse crivo é um tanto quanto falacioso, e se encontra sob a sigla MPB (Música Popular Brasileira). "(...) a MPB se tornou um produto estético capaz de atender ao paladar mais discriminativo da 'intelligentsia' de hoje".
Não é de hoje que essa relação de poder - se entendemos que existe uma supremacia cultural entre MPB e o que é realmente popular em termos musicais - tem sido alvo de sucessivas desconstruções. O cantor e compositor baiano Raul Seixas, em 1974 cantou o seguinte verso em clara resposta ao movimento troplicália:
Eu já lhe disse que eu não tenho nada a ver
Com a linha evolutiva da música popular brasileira
A única linha que eu conheço
É a linha de empinar uma certa bandeira
Hoje, o mesmo Raul Seixas faz parte desse aperitivo para paladares refinados. Isso porque, segundo muitos teóricos de mesa de bar, o período pós ditadura militar não oferece nada para uma manifestação politizada através da música.
No entanto, este fenômeno é acompanhado por um outro bem característico: a falência do instrumento. No Brasil, o funk carioca é talvez o maior exemplo desses dois fenômenos.
Longe de tentar formular aqui uma critica a esse ritmo musical, creio que é necessário entendê-lo como uma manifestação social. Logo, as críticas a essa manifestação ocultam os preconceitos que marcam ainda, de forma tao severa, a nossa sociedade desde a sua formação até os dias de hoje.
O funk, com sua batida eletrônica e sua letra direta, vem confrontar-se à velha moral católica e cristã... Oferece o grito de liberdade aos que vivem sob um regime de exclusão social. Essa primeira análise é sedutora, mas será que podemos encontrar algo mais, revirando esse apanhado teórico que já virou lugar comum? Qual a genealogia desse ideal de liberdade amoral? O discurso "funkeiro", com sua bandeira de "violência" e "sexo sem compromisso" não faria parte da mesma rede histórica daquilo que denuncia a e chama de repressão, ou seja, a moral católico-cristã que mantém o monopólio do sexo imaculado dentro das representações do casamento, e a violência poilicial, que tão facilmente podemos remontar ao tempo dos senhores coloniais.
Essas questões são inteiramente pertinentes para entedermos de forma mais abrangente o fenômeno funk, e reconhecermos as relações de poder quando tal assunto é abordado na mídia, nos apartamentos da classe média alta, ou nos barracos das comunidades mais pobres.
Referências:
  • Música e Democracia; Paes, José Paulo, in Cultura Brasileira - Temas e Situações, Alfredo Bosi (org.), Ed Ática, São Paulo 4ª Ed, 2003 - Série Fundamentos.
  • As Aventuras de Raul Seixas Na Cidade De Thor, 1974, Disco Gita

Adriano José

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